segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Nina

Nina Simone
Cantora de jazz e soul, famosa pelas suas músicas de direitos civis e interpretações de gospels, baladas e canções de George Gershwin. Uma das grandes referências do jazz, a cantora Nina Simone serviu de inspiração para muita gente - vide Norah Jones, o mais novo ícone jazzy da música pop, que não titubeia ao mencionar a cantora como uma de suas principais influências.
Nos últimos anos, a cantora veio se sustentando com o slogan "A única diva viva do Jazz em atividade", ou algo nesse gênero. Encarar auto-referências de uma maneira tão desencucada nunca foi problema para Nina Simone, que tornou-se mundialmente conhecida por seu temperamento forte e seu posicionamento quase sempre controverso. Um mito da música, defensora dos direitos civis nos Estados Unidos e absolutamente contrária à discriminação racial, Simone não só contribuiu para o compêndio musical no mundo, como também constituiu figura importante no cenário político do seu país de origem.

Eunice Kathleen Waymon (seu nome real) nasceu na cidade de Tryon, na Carolina do Norte, EUA, no dia 21 de fevereiro de 1933. Sexta filha de oito irmãos, Simone é mais um daqueles casos nos quais a competência artística é mais forte do que a própria falta de condição financeira - a mãe, empregada doméstica, e o pai, mestre de obras. Menina-prodígio que era, aos quatro anos de idade já tocava piano e cantava ao lado das quatro irmãs no coro da Igreja Metodista dirigida pela mãe.

Aos dez anos de idade (1943), apresentou-se, pela primeira vez, ao piano, numa biblioteca pública da cidade. Foi nesta apresentação que Simone seria introduzida à sensação ambígua que viria a sofrer, anos a fio, por toda sua carreira: aplausos e racismo caminhando juntos, de mãos dadas, inexplicavelmente. Persistente em seus sonhos, Simone recebeu ajuda de seu professor de música e pôde dar continuidade aos estudos.

O talento peculiar valeu à cantora uma vaga na prestigiada Escola de Música de Julliard, em nova York, onde estudou piano. Sua educação artística já foi, em si, um pontapé inicial para sua determinação destacada no meio musical em prol das minorias - pode-se chamar de "milagre" o fato de Simone ter conseguido ingressar no conservatório de música 1) por ser negra, 2) por ser de família simples, 3) por ser, acima de tudo, mulher. O destino fazia sua parte - o resto coube à ela. Que não decepcionou.

Conciliando sonho e realidade, Simone abdicou da dedicação integral à sua carreira de pianista clássica para cantar em um clube de Atlantic City - alguém precisava ajudar a sustentar a casa. Graças a este evento, a cantora não ficou enfurnada (para nosso delírio) nas capas de vinil de "discos para iniciados", colocou o vozeirão no jazz e adquiriu seu célebre nome artístico: Nina, que vem do castellano "niña", a pequena, e Simone, inspirada na atriz francesa Simone Signoret.

Em 1959, grava seus primeiros discos para o selo "Bethlehem", mostrando seu talento como cantora, compositora e pianista. Artista completa que era, seus primeiros trabalhos já foram responsáveis pela consolidação de clássicos inesquecíveis: a interpretação de "I Love you Porgy", de Ira e George Gershwin, imortalizou-se em sua voz e fez com que vendesse mais de um milhão de cópias do seu primeiro disco, "Little Girl Blue"; as músicas "Ne me quite pas" e "My baby justa cares for me" são, hoje, difíceis de serem imaginadas na voz de qualquer outra intérprete.

Do coro da Igreja, passando pela educação em música clássica, culminando nas noitadas em bares e clubes, o repertório de Nina Simone não poderia ser mais farto: jazz, gospel, blues, soul, música clássica e canções populares se misturaram de uma forma única, um bricabraque musical cujo amálgama era, sem sombra de dúvida, seus estilo e voz inconfundíveis. Seu jeito inconfundível de tocar piano, por exemplo, influenciado pelo mestre do swing, Duke Ellington, permeia todas as suas canções: ela migra, com destreza, de silêncios e pausas para o rompante de arranjos fortes, ásperos, elegantemente "desarrumados", jogados.

A controvérsia está posta até mesmo em sua aversão ao título "musa do jazz": É o título que todo branco concede, piedosamente, aos cantores negros - diria ela. Talvez por isto, Nina Simone tenha se aventurado a experimentar de tudo um pouco, provando e remodelando os mais variados estilos musicais: gravou "Suzanne", de Leonard Cohen; "Here Comes the Sun", dos Beatles; "My Sweet Lord", de George Harrison, além de ter gravado, em 1990, com Maria Bethania.
Em paralelo à carreira musical, Nina Simone colocou-se à serviço do povo americano, utilizando a notoriedade que conseguiu com a música para brigar por alguns direitos universais. Em 1963, por exemplo, compõe "Mississippi Goddamn", uma canção-protesto contra a opressiva situação dos negros norte-americanos nos Estados Unidos (nota: a canção foi composta depois do célebre evento numa escola para negros do Alabama que foi bombardeada).

Surgiram outras canções de protesto como "Four Women", pelos direitos femininos, cuja veiculação foi proibida nas emissoras de rádio na Filadelfia e nos Estados Unidos; "Backlash Blues", poema de Langston Hughes musicado; e "Young, gifted and Black", canção inspirada no Movimento Panteras Negras (do qual era militante), e que acabou virando hino afroamericano. Em 1969, farta do racismo nos EUA, Nina renunciou sua nacionalidade em respeito ao assassinato do líder pacifista Martín Luther King. em 1974, muda-se para Barbados e, durante os anos seguintes, viveu em vários lugares - Suíça, Paris, Holanda -, até acomodar-se na França, onde passou boa parte de sua vida.

Já em 1984, a canção-tema de seu primeiro disco, "My Baby Just Cares For Me", foi resgatada graças ao comercial de um perfume da Chanel. Em 1989, publicou sua primeira e única auto-biografia - "I Put a Spell on You" -, que foi traduzida para vários idiomas. Nina deixou uma filha, Lisa Celeste, que atua na Broadway, mas que é conhecida por Lisa Simone.

Nina Simone morreu na França aos 70 anos, em 21 de abril de 2003. A voz rasgada e de timbre áspero certamente deve ter tirado o sono tanto dos fãs quanto dos empresários de selos e gravadoras: faleceu em sua casa e em plena atividade.



Pianista, cantora, personalidade que claramente pode ser percebida na sua arte.
Acima de tudo, uma estrela, mas nunca uma diva do Jazz, como ela mesma não gostava de ser titulada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário